sábado, 20 de junho de 2009

Filme Oleanna de David Mamet

O filme em questão realmente nos leva a inquietação, nos provoca a entender a dramática que enreda a vida humana, especificamente as relações, sejam elas hierárquicas ou lineares. A questão inicial do impasse retratado no filme é a impossibilidade da aluna em entender sua não aprovação, o professor por sua vez argumenta com o brilhantismo intelectual que lhe é peculiar, porém sua explanação mais uma vez não é entendida pela aluna, e assim se desenrola a trama.

Por mais que tentemos buscar um herói e um vilão, sabemos que o pano de fundo que permeia as relações não nos permite construir heróis ou vilões, e sim buscarmos entendimento diante da historia de vida de cada, da construção do aparelho psíquico constituído.
Senão vejamos.

Exatamente nesse momento de desprazer da aluna, na situação de desaprovação na disciplina em questão, e é justamente nesse momento que se constrói o aparelho psíquico e que se instala o principio da realidade, em contra partida ao principio do prazer, no caso o desejo da aprovação é exaltado e sucumbe à possibilidade de avanço emocional da aluna. O aprendiz na busca do prazer imediato não simbolizou o impasse, não possibilitou a espera e camuflou sua frustração resultando na acusação de estupro. Talvez na ótica da moça tenha ocorrido o tal estupro, não o sexual, mas sim o emocional, já que se sentiu violada em seu desejo de aprovação e aceitação de sua condição pouco privilegiada (segundo ela) diante do universo universitário.

Entretanto a relação estabelecida entre aluno/professor foi permeada pela figura irrefutável do detentor do saber, o docente, e não com a relação ao conhecimento, ao estabelecer este foco, parece-me que, o que acionou essa relação conturbada foi à função da repetição e modo de relação com figuras parentais ou sua relação com a sociedade.

Ao nos debruçarmos na tentativa de entender a organização psíquica da aluna em questão, podemos afirmar que a transferência se instalou nessa relação, acredito que toda a carga emocional acerca dos impasses ocorridos em sua vida, sejam eles de ordem social, econômica, problemas com a hierarquia e a própria questão da frustração se fundem na dramática vivida por ela.

Em contrapartida o professor, um intelectual nato brilhava em suas contestações, muitas vezes rebuscado com sinônimos pouco significativos a aluna. O professor com toda sua bagagem intelectual, não conseguia se fazer entender junto ao universo perturbado da aluna. O professor ainda ignora a incapacidade de entendimento da aluna, pois não percebe a barreira na comunicação e nem tão pouco as questões emocionais que permeiam a relação.

Em alguns momentos durante o dialogo entre professor/aluno poderia ter havido uma quebra do círculo nada virtuoso estabelecido entre as partes, haja vista tamanha proporção em que se tornou o caso. A falência da comunicação estabelecida nos conduz a observar que cada uma das partes estava ‘olhando’ única e exclusivamente em sua perspectiva, não estabelecendo a ponte necessária para que ambos fossem entendidos em suas fragilidades.

A Psicopedagogia prima em estabelecer vínculo junto ao aluno/cliente, possivelmente se o professor tivesse feito as proporções não teriam sido catastróficas. Acredito que o professor seja literalmente uma ponte que possibilita ao aluno ir de um pólo a outro mais elevado. Quando esta transição ocorre, seja relativo a questões de ordem cognitiva ou no vasto campo das emoções o professor cumpriu seu papel e o aluno se aprumou nas inquietudes do saber.

5 comentários:

  1. Olha bem interessante sua visão, mas ainda acho que a vilã é a aluna.

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  2. Norma Martins Alcantara21 de junho de 2009 às 22:18

    Concordo com sua maneira de pensar... Outro filme que retrata a importância do "olhar" e intervenção do Professor tem como título: "Toda Criança é especial". Neste filme a atenção do professor salvou uma criança. Vale a pena assistir!

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  3. Muito interessante suas colocações.
    Vejo que realmente, o educador deve ter um olhar diferenciado para cada situação, para cada aluno de forma especial.

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  4. Estou fazendo um trabalho sobre o filme, e apesar de todos quererem me convencer que o vilão é o professor, ainda acredito que seja a aluna. Qual pessoa não se sentiria desestabilizada com a aquela garota. É preciso assistir ao filme mais de uma vez para que se possa observar detalhes que antes passaram despercebidos devido ao tamanho incômodo que ele causa.

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  5. Importante é entendermos que muitos se atrevem a dizer que são professores. Entretanto, poucos são, realmente, docentes. Não podemos esquecer que a sala de aula, para o discente, é sua segunda casa, o segundo contato com a convivência social. Assim, o professor, muito mais que apenas transmitir conhecimento, deve, efetivamente, compreender seus alunos e ensiná-los sobre as vicissitudes da vida. Gostemos ou não, os professores são nossos segundos pais e, dessa forma, os alunos irão absorver muitos defeitos e qualidades de seu professor. Por isso, o professor deve, sempre, manter aquela aura de retidão, força de caráter, educação impecável e, sobretudo, cuidar de seus alunos, como se seus filhos fossem e zelar para que apenas levem da escola os melhores exmplos de vida e cidadania.

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